Em 2012, durante os Jogos Olímpicos de Londres foi realizado estudo com objetivo de avaliar a saúde bucal e seu efeito no bem estar, formação e desempenho dos atletas.
No total foram 302 atletas de 25 esportes, sendo maioria deles da África, das Américas e Europa.
Após realizados anamnese e exame clínico, o resultado foi alarmante. A cárie dental estava presente em 55% dos atletas, a erosão dental em 45%, a doença periodontal destacou-se sendo que 76% dos atletas apresentavam gengivite e 15% periodontite. Mais de 40% relataram incômodos, 28% relataram impacto na qualidade de vida e 18% na performance, ocasionados pelos problemas de saúde bucal. Quase metade do grupo não tinha ido ao dentista no ano anterior para avaliação ou tratamento.

Estamos a um ano dos Jogos Olímpicos no Brasil e convidamos Magic Paula para saber um pouco de sua visão a respeito da saúde bucal dos atletas de alto rendimento brasileiros.

BOC – Estamos a um ano das olimpíadas. Qual a sua opinião a respeitos dos jogos olímpicos que serão sediados pela primeira vez em nosso país? Estamos capacitados a receber esse grupo seleto de atletas de
alta performance mundiais?
Magic – Não tenho participado muito da organização dos Jogos Olímpicos, mas espero que apesar de todos os problemas consigamos realizar um evento de qualidade.

BOC – Na vila olímpica há algum serviço permanente de atendimento odontológico oferecido aos atletas?
Magic – A Vila Olímpica é uma cidade completa com posto de atendimento médico e odontológico. Para se ter uma ideia há inclusive Casas Noturnas. Vai do atleta optar em como vai usar o que ela oferece.

BOC – Recentemente você esteve em Atlanta, nos Estados Unidos, fazendo a cobertura dos jogos da NBA. Hoje identificamos a utilização de protetores bucais em atletas para prevenir lesões. Como você vê a utilizacao desses dispositivos?
Magic – Esse foi o tema de uma de nossas conversas durante a transmissão dos jogos. O maior jogador da NBA, Stephen Curry, usa o protetor como se fosse uma “chupeta”, movimentando-a para todos os lados, fazendo malabarismo. A utilização é imprescindível, apesar de desconfortável, pois na quadra falamos muito, ainda mais na minha posição de armadora. Parei de jogar há 15 (quinze) anos e na época os protetores, quando utilizados, não eram como os de hoje, feitos sob medida, no formato exato da boca do atleta.

BOC – Como os atletas se preveniam antes da popularização desses dispositivos?
Magic – Tive a experiência desagradável de perder um dente durante o jogo e fraturar outro. Foi uma cotovelada sem intenção e que pode acontecer. Após esse episódio, passei a utilizar esse tipo de protetor, mas como havia comentado, na época, além de ser desconfortável, nem todos os atletas tinham acesso, pois os encontrava somente no exterior. Hoje, já é mais popular.

BOC – Quando há lesões bucais devido aos impactos físicos ocorridos, como são conduzidos os procedimentos? Conhece alguma situação em que um atleta de basquete ficou impossibilitado de participar de algum jogo oficial por conta desse tipo de lesão?
Magic – São várias as situações, inclusive a que ocasionou na perda de meu canino, mas o mais importante é a conscientização ao que se refere a prevenção. Há estudos que demonstram que a qualidade da saúde bucal de atletas é muito inferior ao desejado e há necessidade de maior divulgação de sua importância.

BOC – O InstiTRDSC_0063tuto Passe de Mágica foi criado por você em 2004 com objetivo de desenvolver atividades de esporte educacional para crianças e adolescentes em vulnerabiliadade social. Como a saúde bucal das crianças do instituto é abordada?
Magic – No Passe de Mágica, costumamos brincar que a última coisa que as crianças fazem é jogar basquete. O que mais levo de minha carreira foi o aprendizado de organização, rotina, comportamento e responsabilidade. É isso que tentamos passar para as crianças do projeto. Não temos nada específico ao que se refere a saúde bucal, mas buscamos fazer periodicamente palestras educacionais com orientação e prevenção.

BOC – Dentro da sua trajetória no esporte, como percebe a evolução da abordagem odontológica dos atletas? Como era e como é hoje?
Magic – Percebo que engatinhamos nesse tema. Deveria haver mais conscientização da importância da prevenção de lesões e no tratamento. Os protetores bucais foram um avanço, mas ainda há muito a se fazer. O resultado da pesquisa realizada nos Jogos Olímpicos de 2012, em Londres, mostra isso claramente.

BOC – De modo geral qual a sua visão sobre a saúde oral do brasileiro, atleta ou não?
Magic – Já ouvi falar que a odontologia do Brasil é uma das melhores do mundo, mas considero deficiente, principalmente para os mais necessitados. Recentemente minha secretaria do lar sentiu muitas dores e só pensava em uma maneira de extrair os dentes. É preocupante a falta de conhecimento sobre a saúde bucal e a falta de acesso aos tratamentos nas redes públicas.

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